terça-feira, 19 de julho de 2011

Diario de Rose Eastern Perri

Rose? Menina maravilhosa, nova, já com tantos problemas amorosos, tantas lágrimas já cairam por cima das minhas páginas amarelas, mancharam a tinta nanquim, me deixando todo borrado... Rose, Rose.
Quem contará suas histórias sou eu, o diário de Rose Eastern Perri, e quem melhor para fazer isso? Sei de tudo, por cada minimo detalhe.
Quando calma, mal sentia o passar do bico de pena em minhas folhas grossas, bem tachadas na capa preta de couro, a mão macia escorregava suave, me fechava com delicadeza... Mas quando triste? Escrevia com uma lentidão pegajosa, me causava sono... as lágrimas escorriam de seus olhos e eram lambidas para dentro da boca. Rose brava as vezes me jogada contra a parede. Rasgava-me, me perfurava com força. Como era doído os amores da minha pequena garota.
Tenho linhas tortas, escritas sem pausa, rápidas e decididas. Ofegantes, estéricas, cada virada  me dava orelhas nas pontas.
Mesmo sendo todo torto, capa frouxa, borrado de linhas que decolam e caem, tenho o prazer de ser o seu diario. Menina linda, menina bela.
Bom, deixando toda a introdução de lado, vamos para o que Rose chamava de amor.
Ela se apaixonou em 1951, aos dezoito anos e, o amor sem seus olhos era claro e vivído.
Não desejava mais ninguém a não ser ele. Nessa época da adolescencia entrando na fase adulta, as paqueras e flertes vem de todos os lados, deixando qualquer um tão feliz, mas minha Rose, estava amando. E aí cabe uma diferença entre amar e apaixonar-se.
A paixão te deixa feliz, excitado com "o estar" com alguém, mas cai em dúvida se "é esse mesmo que quero?" "vou ficar com ele tempo suficiente ou vai acabar?" "...acho que vai acabar!"
São duvidas e virgulas e, nunca um ponto final. Só reticências.
O amor já não! O amor você tem certeza! Você deseja somente aquela pessoa. E estar só ao seu lado pra sempre.
As despedidas a noite de sexta-feira, são como um adeus. Deixar os lábios, o abraço, o calor dos corpos únicos, dói... é como se te repartisse ao meio. A pessoa te completa, te faz sorrir de tristeza e chorar por alegria.
Sim, quem ama serve para isso. Quem ama pensa naquele e só. Não interessa mais ninguém e pode ser quem for. Toda musica faz lembrar, todo momento você faz algo por ela.. ai ai... o amor, o amor machuca.
Quando brigam o amor vira ódio. Mas viram ódio de mãos dadas. O amor é cheio de certeza e pontos finais.
Virgula só pra dar continuidade.
Rose amava assim.
Mas chegou um dia caro leitores, que o amor de Rose quis deixa-la.
Nunca recebi linhas tão desesperadas e afogadas na mágoa como naquela noite de sabado de 1954. Dia 26 de Junho...
Serviu de tapete, pobre menina. Corria atrás, pedia perdão sobre o que não estava errada e não precisava. "Eu te amo, não me deixa"- eu disse  a ele, mas caro diario, ele não me quis, disse que por mim não sentia mais nada, por ele outra estava sendo amada, e fui deixada!"
Rose minha querida, se eu pudesse lhe escrever de volta. O esqueça minha querida. Você é nova, tantos outros ainda virão em sua vida.
Eu tive razão.
Após cinco anos o encontrou de novo. O AMOR.
Está casada a cinquenta e sete anos. De vez em quando suas filhas todas moças, me leem, riem, e acham tudo tão parecido com o que elas passam, veêm que a mãe tem razão nos conselhos que dá.
Rose me deixa no fundo de uma gaveta com os cupins tirando meu proveito. Mas o carinho por mim ela demonstra toda vez que me pega, passa suavemente suas mãos em mim "Ah caro diário, você sabe de tudo, não é? Melhor amante que você, nenhum!"

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