sexta-feira, 22 de julho de 2011

Calma.

CALMA, s f. O calor atmosférico hora mais quente do dia; calmaria; tranquilidade; quietude.

As pessoas tem o costume ligeiro de lhe dizer "Calma, tudo ficará bem!", quando você se encontra em momentos não muito agéis da vida.
Dentro de nós tentamos, e tentamos trazer conosco a famosa calma.
Mas no mundo todo, onde está essa calma? Ela existe?
A calma só existe se você com si estiver calmo. O que é dificil, concordemos... Pois sempre temos alguma preocupação na cabeça, seja do trabalho, dos estudos, namorado,na familia, dinheiro, ou quando não de assuntos tão concretos, da roupa que está vestindo, do modo que seu cabelo ficou após o vento, saúde e coisas nossas.
Se existe um lugar nesse mundo, e eu sei que existe, calmo... Só estaremos calmos nele, se levarmos a calma até lá.
Calma, calma.
Eu sempre fui assim, sou agitada, não paro em um lugar só... Odeio filas, odeio esperar, odeio lugares lotados... lotados de pessoas tão insignificantes.
A minha calma vivia no estudio do meu pai. Quando eu ficava de mal comigo mesma, eu ia até lá dar um "oi", querendo dizer na intonação da minha voz "me ajuda, pai!"
Sempre quando eu virava a esquina daquela rua, o som da guitarra dele sempre estava no ar.. As risadas dos colegas, o cheiro dos microfones, dos aparelhos... sim, eles tinham e tem um cheiro.. já vinha para minhas narinas e ouvidos e me trazim muito conforto.
E por que você não vai lá Pietra?
O estudio não existe mais.
O meu refugio foi desmontado, junto com a morte do meu pai no dia 5 de Julho de 2010.
Nesse dia ai, eu estava na escola Objetivo, fazendo meu curso pré vestibular. Saia de lá sempre as 23h, raramente mais cedo quando algum professor não tão rigido nos liberava após terminar matéria.
Minha mãe me buscava todas as noites quando não era o namorado.
Cheguei em casa e fui direto pra geladeira, seca para comer algo, e então encontrei uma trufa.
Peguei a faca numa certa tranquilidade, mas com certo sentimento estranho dentro de mim.
Ao repartir a trufa ao meio o telefone de casa tocou. Minha mãe estava sentada na mesa do computador ao lado, e atendeu já no primeiro toque.
-Alo? Oi? Calma, fala devagar que não to entendendo. Quem? Lais?
Ao dizer "Lais" meu estômago gelou na mesma hora. Pois as unicas Lais que existiam eram da minha familia paterna... (ps: minha mãe e pai se separaram quando eu tinha 1 ano. Vivo com ela e meu padrasto em casa... por isso digo familia paterna, é outra, completamente diferente).
Bom, a ligação continou e eu dessa vez com a orelha em pé.
-Fala devagar... Ai meu Deus!
Nessa minha mãe começou a chorar desesperadamente, e eu já estava na frente dela, querendo ouvir o berreiro do outro lado da linha.... Ela desligou o telefone, cobriu os olhos com as mãos e disse: -Pietra vem cá, é com você.
-É comigo o que mãe?
-Seu pai filha, sofreu um acidente de moto...
(choro e falta de palavras... ofegos...)
-Ele morreu.
Minhas pernas perderam a força e eu fui para o chão.
-Levanta daí Pietra!
Levantei e andava de trás para frente, rindo, esperando uma explicação melhor que essa. Claro que meu pai não havia morrido! Como assim, o meu pai???? Meu pai? Não, meu pai não!"
-É brincadeira né mãe? Só pode ser!
E até ai eu estava calma achando que era um mal entendido.
-Quer ir até sua vó?
-SIM, agora.
No carro que me dei conta do que era a morte e de qual poderiam ser suas consequencias, ameacei chorar, mas não conseguia, nessas horas não tem explicação pra qual é o sentimento. É inexplicavel. Você se sente fora do seu corpo, fora da esfera. Cheguei na minha vó e haviam varios carros parados e pessoas chorando desesperadamente. Entrei correndo, trombei logo com meu tio...
-Cade meu pai, Bill? Cade?
-Ah Pi....
(cai na escada novamente sem forças para manter-me em pé... meu tio me abraçou junto da Lais, e choraram ao meu ombro)
Minha vó estava sem eira nem beira sentada na cadeira da cozinha, me abraçou no mesmo momento que me viu e ficava me perguntando por que.. por que... -"Eu avisava ele pra não ir pra aquele rancho, pra não andar de moto é tão perigoso, Ah Celinhoo..."
No dia seguinte, sem ter dormido nada a noite, fui acordada para ir até o velório e enterro.
Entrando na sala onde estava o corpo, várias pessoas lá dentro tomaram direção a mim, para dar algum consolo, mas pararam na mesma hora que viram que segui direto para ele.
Rasguei a merda da rendinha que fica por cima e segurei sua mão. Fiquei ali não sei dizer por quanto tempo... Eu só conseguia olhar para sua mão.
De repente ela ficou quente, e pensei que ele estava tomando vida novamente. Não... era só o calor da minha mão....
Ele estava com o rosto calmo de sempre.... E foi aí que encontrei a calma. A calma sempre esteve nele, e quando me perco comigo mesma, penso nele. Por que eu sou uma parte dele, sou o que ele deixou aqui! Sou filha do Marcelo Cardoso!
É onde eu encontro minha calma...
Calma.
Um refugio tão dificil de pensar em encontrar, mas tão gostoso quando o sinto aqui comigo. Nos sonhos, no toque dos violões.... Dentro de mim.
Essa é a minha calma. Tem como me trazerem ela de volta?
Não, acho que terei que esperar para ir até ele.
Bom, comprei um cachorro com a grana que meu pai me deixou. O Johnny Alcapone, e descobri outro tipo de distração muito bom.... por os fones no ouvido e sair dar um role com meu filhote.
Johnny Alcapone é a causa de uma perda muito grande na minha vida, e que me ajudou incrivelmente nos momentos mais dificeis da saudade e da ausencia do famoso Celão.
Cachorro terapia.
Musica terapia.
Cigarro terapia.
Vista terapia.
Quando eu tiver mais algo, coloco na lista.

É o que toca: http://www.youtube.com/watch?v=nZlnCR8nitc&feature=player_embedded


4 comentários:

  1. oi. Sabe pq sempre gosto de ler seu blog...?
    Pq todos seus posts são sinceros; podem ser coisas engraçadas, alegres, dolorosas, chatas... seja oq for. Pra quem vive sufocado num mundo tão cheio de falsidade, é bom ler algumas palavras sinceras, mesmo que seja de alguém q eu nem conheça. Dá um pouquinho de ar pra respirar...

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  2. puts! Muito obrigada por esse elogio! É ótimo saber que há pessoas que compartilham dos meus textos e sentem o que quero passar com meus posts. Agradeço muito. Obrigada!

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  3. Pietra:
    Vc escreve muito bem, de uma maneira que nos
    instiga a querer ler mais e mais.
    Continue!!! Além de ser uma ótima terapia, vc
    escrevendo amadurece as ideias e os ideais...

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  4. Muito obrigada! Espero melhorar a cada texto, dando mais instiga a lerem. Obrigada mesmo.

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