segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Nicolas

-Nicolas, aonde você vai?
Enfiou nos pés o all star vermelho sujo e, pisando no assoalho solto do quarto, colocou um vinil na vitrola. Ainda na dança da vodka, mexeu o quadril, trançou as pernas e caiu.
Nicolas nunca ia a lugar nenhum, a não ser do bar pra casa, da casa pro bar, ou da casa pra casa. Já que era tão familiarizado com aqueles bancos mancos do velho buteco da esquina, onde tentava se equilibrar com o peso fisico e a tontura da pinga na cabeça. Quando tentava se manter ereto se entortava. Era como vara muito longa. O topo sempre balançando.
-Nicolas?
A maçaneta da porta ia para cima e para baixo, de baixo para cima, desesperada e afogada na desesperança que fosse destrancanda.
O som continuava, as vezes ouvia-se cabeçadas na parede, bundadas no chão, e o cheiro de vômito dominava a casa. Já não tinha outra rotina, era assim.
Um dia acordou sóbrio mas com a cabeça mergulhada na ressaca, Nicolas enfiou nos pés o all star vermelho sujo, pisou no assoalho solto do quarto.
-Nicolas, aonde você vai?
Abriu a porta, acendeu o cigarro e desta vez saiu.
Não fazia sentido para ele, olhar tanta merda, encontrar tanto "sem nexo" em um lado só da calçada, por isso mesmo não perdia a lubrificação dos olhos para olhar pro outro lado da rua.
Jovens bebados na fila de casas noturnas antes mesmo de entrar para beber, menininhas mimadas dirigindo o carro dos pais, com o copo de bebida na mão, abalando com as amigas, até meter o carro num poste, causando algum riso no rosto de Nico. Irresponsabilidade... Por isso preferia ter ela trancado em seu quarto. No meio dessa maré de corpos podres, encontrou uma luz que de tanta beleza, desencaixava-se daquele palco de horrores. A peça do quebra cabeça ao avesso.
Lilian era bela, clara e seus fios laranja avermelhados, botavam fogo naquela tristeza decadente.
Nicolas pela primeira vez se sentiu desconcertado não pela bebida mas pelo o amor.
Com este favo de sol, Nicolas começou um romance, largou do alcool para trai-lo com Lilian, e assim foi um amor de primeira vista, como aqueles contos de fadas onde os passaros cantam, as borboletas batem as asas coloridas sem se espatifarem num tronco e deixarem de poder voar, e onde a brisa trás com si petálas já dependentes, que decidiram abandonar os galhos para poderem viajar.
Mas ele se esqueceu que toda chuva vem, trazendo com si o vento forte, destruindo todos os bens fragéis. Flagrou Lilian com a tempestade da traição e, não fora com uma tempestade passageira, ela arrumará outra paixão.
-Nicolas?
Cauçou o all star vermelho sujo, pisou no assoalho solto e dançou ao som da solidão.

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