terça-feira, 15 de março de 2011

Café, cigarro, seis pães.

Setecentas e duas páginas. Cento e quarenta e nove para acabar, estou quase lá, quase lá.
Dez horas e vinte e nove minutos uma velha de aparencia velha demais pra idade que realmente tem, entrou na padaria com o maço e isqueiro na mão, pedindo um café.
-Sim senhora, tem, expresso.
-Só expresso?
-Só...
Nos tempos de hoje em que padaria se passa café á filtro?
-Me vê um.

Veio ao caixa. Era alta, magra, os cabelos curtos, porém em grande quantidade, brancos, brancos sem entregar nenhum fio que não fosse tão branco.
-Um e quarenta...- disse ela.
Como se eu não soubesse o preço do café que vendo.
-É, um e quarenta.
Me deu dois reais.
-Te volto sessenta, obrigada.

Dez e quarenta e três, um moço, de cabelos desgrenhados com brincos de argola, regata, tatuado, calças largas e tênis um tanto quanto sujos...
-Me vê um cigarro.
-Vejo.
Então ficou aquele silêncio de quatro segundos, eu, esperando por qual cigarro, álias vendo vinte e cinco tipos.
-Aquele branco...
Vejamos bem, do suporte de baixo  tenho 10 tipos de cigarros, dos quais sete são embalados em branco.
-Esse?
E apontei pro Dunhil Carton, querendo vender o mais caro.
-Não, aquele pro lado...
Pro lado! ótimo! A paciencia já se esgotando...
-Esse? -Agora para o Free box...
-Não, não, o azul...
-Free box azul, moço?
Com intonação de óbvio e 'você poderia ter dito!'
-Isso...quatro e...
-cinquenta.
Me deu cinco, devolvi cinquenta.
Mas era bonito o desgramado. Tinha olhos castanhos vivídos e sorria sonsamente pela lerdeza ao pedir o seu vicio.
Ficou me olhando parado mesmo após o troco.
-Tchau então -finalmente disse.
-Tchau, obrigada.
Saiu, escutei o barulho do seu jeep, foi embora. Olhou pelo retrovisor, eu vi.

Onze e cinco da manhã, uma magricela vizinha entrou, pediu seis pães.
-Seis pães por favor, um e oitenta!
-Sim.- disse eu já amargurada...-um e oitenta!

Eu sei os preços do que vendo, juro que sei!

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