sexta-feira, 18 de março de 2011

Abuso impertinente.

A sala estava cheia, e somente se escutava o ranger dos lápis, as folhas virando e a voz do professor que tagarelava aula de quimíca.
Julieta nunca se interessou por cálculos, números, muito menos por formulas cheias de regras em como serem compostas. Ela não entendia por que de tudo aquilo. Ela não queria permanecer mais ali.
Eram fileiras compridas de carteiras, uma posta mais alta que a outra por degraus.
Olhando pra cima, como tinha costume, viu meninas arrumadas demais, sentadas com poses nas pernas e com caras de intelectuais. Na cabeça de Julieta, elas eram apenas putas fazendo umas horinhas antes do trabalho pra mais tarde da noite. Não entendia porque de todo aquele circo. Calças justas demais, maquiagens, lentes coloridas, pulseiras em exuberancia, decotes. Gracinhas e sorrisos toscos pro professor novinho e com ar repugno de galã de matematica.
-É, elas devem estar aqui fazendo propaganda do trabalho delas....Querendo mostrar com o tamanho de um sorriso o quanto elas abrem a bunda.... -Pensou.
-Julieta,Ju... PARA DE OLHAR!
Julieta tinha o problema de se perder nos pensamentos. Ia para outra dimensão quando parava pra julgar qualquer coisa que via pela frente.
Tinha os cabelos longos, encaracolados, castanhos, e as pontas terminavam levemente num tom dourado. Usava óculos de lentes grandes demais pro seu rostinho magro e branco. Tinha olhos grandes, cilios compridos, os quais batiam nas lentes quando piscava. Isso a atormentava.
Odiava e admirava toda a falsidade que podia se encontrar em vinte metros quadrados. Veja bem, se olhasse mesmo com atenção, sem ser atenção para o que as pessoas vestiam ou que penteado estariam usando, poderia ver as pessoas cochichando de uma para outras, sobre outros que cochichavam sobre eles.
-É tudo tão bizarro nesse mundo.
Abriu seu caderno então pela primeira vez depois de duas aulas cheias de cálculos e, começou a desenhar frenéticamente qualquer coisa que não significava nada.
Acabou em vários esboços de caras tristes, rabiscadas e apagadas.
Deu o sinal, não aguentava continuar ali, ergueu-se, pegou sua bolsa de couro preta, colocou seu sobre-tudo e saiu.
Estava frio e úmido lá fora, choverá. Julieta usava botas de cano baixo, um tanto quanto largas por cima da calça jeans surrada. Foi pro cinema.
Passava um filme qualquer, que nem em cartaz chamará a atenção. Comprou seu ingresso e sentou-se sozinha em uma fileira do meio, ocupando três poltronas. Uma para sua bolsa, outra para sua bunda e a ultima para seus pés, jogando as pernas por cima daquela repartição onde todos disputam pra porem os seus braços.
Gostava de olhar para os lados e para trás, e observar a cara das pessoas. Em cenas de sexo todos ficavam apreensivos em suas cadeiras engolindo a seco, corando e fingingo não ligar. Outros acompanhados ousavão em olhar pro lado e dar uma risadinha. Cenas de suspense, todos arregalavam os olhos e ficavam esperando por algo, vidrados na tela tomando frenéticamente seus refrigerantes.
E ela não. Ao invez de assistir ao filme, assistia aos seus telespectadores, deixando sua coca-cola esquentar e suar suas particulas de água gelada da lata.
As luzes acenderam.
-Como é estranho tudo isso.
Saiu gabaleando de sono e foi embora a pé, pelas ruas daquela cidadezinha sem muito interesse.
Ouviu passos, evitou olhar pra trás, acelerou o passo e começará a andar rápido olhando somente pro chão.
O pedregulo passava rápido sob seus pés, quando ergueu a cabeça estava na rua mais vazia e escura de um bairro. Saíra do centro e não se deu conta. Os passos pararam junto com os dela naquela rua sem casas e sem saída. Havia só uma caçamba de lixo, dessas amarelas e grandes cheia de madeira e concretos quebrados.
-Xiiiiiiiiu, um grito e eu te enfio a faca, garotinha! Faz o que eu mandar e te deixo ir.
Julieta gelou. Foi logo abrindo a bolsa para entregar tudo o que tinha.
-O que ta fazendo? Mandei fazer só o que eu mandar!
Era branquelo, metido a bandido, alto e bem vestido. Não enganava ninguém que deixara de ser um filho de pai rico, e que tinha transtornos compulsivos pelo alcool, pelo fumo. Mas tinha uma faca... Não que uma faca daquele porte ridiculo, provavelmente tirada da gaveta da cozinha da própria mãe pudesse lhe tirar a vida, mas poderia lhe deixar uma bela cicatriz por toda a vida.
A lembrança do momento ja seria ruim, uma cicatriz para se ver todo dia...
Era bonito apesar da expressão de panico. Não tinha muita prática, tremia, não tinha muitas palavras, se entregava com gestos que nunca havia feito aquilo antes.
-Abre esse casaco, levanta a blusa. - Falava num tom até que educado, se esforçava para não ser.
Julieta obdeceu.
Então aqueles dedos compridos tocaram seus seios. As mãos macias e delicadas.
Julieta não sabia o porque reparava em detalhes como esse, num momento em que estava sendo abusada sexualmente. Mas a respiração dele entregava, era só um garoto querendo ter a experiência. Provavelmente pelos seus vicios seria dificil arrumar uma garota de modo humano.
Devagar ele tocou os lábios em seu pescoço e puxava levemente seus cabelos compridos.
-"Idiota, ao menos se fizesse tudo de uma só vez, o que ele quer...o que." Por um momento se perdeu em pensamentos...
Então escutou o barulho do ziper se abrir, Julieta voltando a pé firme no chão viu o rapaz puxando as vestes pra baixo.
-Abre essa calça, anda!
Ela abriu, abaixou-as, então sentiu mais uma vez aqueles dedos gelados lhe tocarem. Ela segurou um gemido de certo prazer. Ele respirava arquejante.
Então sentiu algo a mais, ele o fizera, penetrará nela. Segurava firme uma mão em seu ombro e a outra acariciava sua nuca. Não entendia porque de toda delicadeza. Ele chegou ao seu prazer, o mais cafajeste que pode, beijou-lhe os lábios e disse: -Se abrir a boca te mato.
E saiu correndo. Fugindo, na espreita.
Julieta se vestiu. Se sentiu artodoada, infeliz por não ter feito nada. Simplismente deixou e obdeceu. Não gritou, evitou...
Fechou o casado e foi embora no caminho, cantarolando por alguma razão da qual não conhecia.
Não estara assustada, magoada ou se sentindo rebaixada. "Pela janela vejo fumaça vejo pessoas... na rua os carros o céu o sol e a chuva... o telefone tocou, na mente fantasia...."
Continuava a andar....
-Não entendo, não entendo  esse mundo louco.

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